sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Minhas Mães e Meu Pai

Os autores de novelas globais se orgulham do suposto papel "social" que suas "obras" tem para com o público. De uns tempos para cá, tem sido comum a inserção de personagens que atentam para questões delicadas, como a Síndrome de Down, os maus tratos a idosos, gravidez na adolescência, etc. Porém, nada causa mais polêmica do que os frequentes casais homossexuais apresentados nos folhetins da emissora do plim-plim. Mas que casais são esses, que não se beijam, mal se abraçam e, quando muito, andam de mãos dadas? Oficialmente, usa-se como desculpa a nobreza do horário em que as novelas vão ao ar. Sei... Bem, por mais que não seja revolucionário (nem tão ousado) em seus propósitos de cunho social e seja repleto dos piores lugares-comuns do gênero, Minhas Mães e Meu Pai ao menos serve como um tapa na cara da hipocrisia de Gilbertos Bragas e Aguinaldos Silvas da vida.

Dirigido por Lisa Cholodenko, o longa acompanha o casal Nic (Annette Bening) e Jules (Julianne Moore), cuja filha mais velha está a poucos dias de mudar-se para a universidade. Antes disso, porém, ela e o irmão tomam uma atitude pouco convencional: sabendo que foram gerados com o esperma do mesmo doador, decidem procurar seu "pai biológico" sem, claro, que as mães saibam. Apesar da premissa e dos primeiros minutos sugerirem uma comédia leve e sem grandes pretensões, a cineasta pesa a mão em momentos importantes da trama, e faz com que o filme poucas vezes soe convincente quando envereda para o seu lado mais dramático.

E é uma pena que Minhas Mães e M
eu Pai acabe se levando muito a sério, pois é nos momentos mais simples e cômicos que a narrativa encontra seus eixos e permite que o elenco - afinadíssimo - brilhe. Personficando uma lésbica mais masculinizada que sua parceira, Annette Bening praticamente opera um milagre ao incutir personalidade e carisma a uma figura muito mal desenvolvida pelo roteiro: chega a ser irritante notar como a personagem vai adequando-se às demandas da narrativa, mudando o tom com excessiva frequência. Felizmente, o talendo da atriz compensa esse deslize.

Enquanto isso, Julianne Moore empresta sua habitual leveza a uma personagem cujo verdadeiro propósito dentro da história é motivar a crise conjugal que - além
de forçada - torna o filme um festival de clichês (rola até uma das esposas dormindo no sofá... Pois é...). Já Mark Ruffalo acerta na dosagem e faz do pai um sujeito simples e despreocupado, até seus "filhos" entrarem em sua vida. E essa situação pouco convencional acaba por balançá-lo consideravelmente, uma vez que ele se apega aos jovens, bem interpretados por Mia Wasikowska e Josh Hutcherson.

Como boa parte do cinema
independente produzido nos Estados Unidos, onde a tradicional família norte-americana é distorcida e mostrada como moderna e irreverente (vide Pequena Miss Sunshine e Juno), Minhas Mães e Meu Pai faz questão de apresentar personagens excêntricos, intelectualizados e preocupados com o meio ambiente, mas que não sabem lidar com crises de relacionamento e, como qualquer ser humano, amam e querem ser amados. No dia em que as novelas da Globo conseguirem capturar a essência desse ser humano - e não de seus esteriótipos - a desculpa do horário nobre vai ter que ir pelo ralo.

Nota: 7

The Kids Are All Right, 2010. De Lisa Cholodenko. Com Annette Bening, Julianne Moore, Mark Ruffalo, Mia Wasikowska, Josh Hutcherson. Comédia/Drama.





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