segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Um balanço do Oscar de 2000 a 2010

Nem sempre os melhores ganham o Oscar. Nos últimos anos, testemunhamos equívocos colossais por parte da Academia de Artes de Ciência Cinematográficas. Algumas vezes esses "erros" não chegam a causar tanto alvoroço, sobretudo quando concorrentes estão no mesmo, digamos, patamar (seja ele alto ou baixo). Porém, na maioria das vezes fica aquela sensação de "ah, mas esse filme não era o melhor" ou "esse diretor só ganhou porque já havia sido indicado várias vezes". Enfim, com o Oscar 2011 cada vez mais perto, é hora de analisar quem, de fato, mereceu a cobiçada estatueta na última década, e quem merecia ter voltado para casa com as mãos abanando.

2000 (72º)

E o Oscar foi para... Beleza Americana


Mas deveria ter ido para... O Sexto Sentido

É difícil tirar o mérito deste excelente drama dirigido por Sam Mendes, sobre uma família disfuncional cujo patriarca tem uma queda pela melhor amiga de sua filha. Particularmente, penso que a Academia perdeu a oportunidade de premiar, pela primeira vez, um longa de horror (vá lá, suspense) de alto nível. O Sexto Sentido, não há como negar, é um filme importantíssimo dentro de um gênero tão surrado e notoriamente ignorado pelos votantes. Hoje, 11 anos depois, a história do menino que vê gente morta permanece vigorosa e, por mais que M. Night Shyamalan tenha desaprendido a dirigir, sua primeira incursão em Hollywood jamais será esquecida.

2001 (73º)

E o Oscar foi para... Gladiador

Mas deveria ter ido para... Traffic


Já se vão 10 anos e continuo sem entender o que a Academia viu de tão formidável e maravilhoso em Gladiador, de Ridley Scott, que justificasse sua vitória. É um filme grandioso, visualmente impecável, mas não passa disso. Seu roteiro (?), sequer indicado, é um fiapo sem dó, previsível e repleto de personagens mal desenvolvidos. Por outro lado, Traffic, vencedor de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Diretor, para Steven Soderbergh, possui uma trama mais densa, que cruza diversas histórias paralelas envolvendo o tráfico de drogas em San Diego. O ótimo elenco - Michael Douglas, Benicio Del Toro, Don Cheadle - completa o pacote.


2002 (74º)

E o Oscar foi para... Uma Mente Brilhante

Mas deveria ter ido para... O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel


Uma Mente Brilhante é outro daqueles filmes que não possui nada de excepcional a ponto de faturar um Oscar (quatro, nesse caso). É um filme correto, bem dirigido e conta uma história real (a do matemático John Nash) - algo que a Academia adora. Talvez por ter - erroneamente - premiado um épico no ano anterior, os votantes relegaram ao primeiro capítulo da saga do anel somente prêmios técnicos. Uma pena. A Sociedade do Anel é um longa perfeito, o melhor da trilogia. Peter Jackson, além do visual arrebatador (efeitos visuais, direção de arte, figurnos - é tudo impecável), transpôs à tela um livro que muitos julgavam impossível de ser adaptado. E isso não é pouca coisa.

2003 (75º)

E o Oscar foi para... Chicago

Mas deveria ter ido para... O Pianista

Não, Chicago não é ruim. Mas O Pianista é uma verdadeira obra-prima. Histórias sobre o holocausto nazista durante a Segunda Guerra já haviam sido retratadas no cinema - e até vencido Oscar (A Lista de Schindler), mas coube a Roman Polanski empregar um realismo visceral à película. Seu protagonista, um pianista judeu que luta para sobreviver em uma Varsóvia destruída pelos alemães, deu a Adrien Brody o Oscar de Melhor Ator. Além disso, venceu Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Diretor. Nesse ano, aparentemente, o lobby de Harvey Weinstein - o todo-poderoso da Miramax -, conhecido por fazer campanhas descaradas (às vezes sujas) para seus filmes, pesou entre os votantes que, assim como em outras ocasiões, não conseguiram dizer não aos "encantos" do executivo.

2004 (76º)

E o Oscar foi para... O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei


Tinha mais é que ir para O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei

Era agora ou nunca. Se a Academia não concedesse a maior láurea do cinema ao último capítulo da aventura de Frodo e seus companheiros, uma das maiores sagas da história do cinema passaria incólume aos olhos dos votantes. O bom senso falou mais alto e, finalmente, O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei saiu vitorioso. Não bastasse isso, o longa ainda igualou o recorde de Ben-Hur e Titanic ao conquistar nada menos que 11 estatuetas. É uma pena, no entanto, que o filme tenha tido como adversários outros ótimos títulos - que tiveram de se conformar com alguns poucos prêmios -, como Sobre Meninos e Lobos e Encontros e Desencontros. Mas sua vitória foi mais do que justa.

2005 (77º)

E o Oscar foi para... Menina de Ouro

Tinha mais é que ir para Menina de Ouro

Novamente, o Oscar estava em boas mãos. Já tendo vencido em 1993, por Os Imperdoáveis, Clint Eastwood voltou a dominar a festa e saiu com os prêmios principais. Drama dirigido com maestria por Clint, Menina de Ouro apresenta um tema muito querido pela Academia, e que geralmente rende ótimos filmes: o boxe. Mas não é um Rocky de saia, como muito se especulou antes da estreia. Esmerada e perfeita no papel da jovem pobre que sonha em ser boxeadora, Hilary Swank também levou seu Oscar para casa (o segundo). Mas a trama não se resume a isso. O roteiro aborda, de maneira sensível, o relacionamento da pugilista com seu treinador, vivido por um Eastwood bastante turrão (como sempre), além de tocar em questões delicadas como a eutanásia.

2006 (78º)

E o Oscar foi para... Crash - No Limite

Mas deveria ter ido para... Qualquer um, menos Crash - No Limite

Num ano com ótimos filmes concorrendo, os caras escolhem justamente o mais fraco para ser premiado?! Crash - No Limite é um longa com inúmeros problemas: as tramas paralelas são irregulares e, por vezes, previsíveis; o grande número de atores, que resulta em atuações díspares e desniveladas (Matt Dillon está muito bem; Sandra Bullock, péssima). Qualquer um dos outros quatro indicados é bastante superior ao filme dirigido por Paul Haggis. Pessoalmente, daria meu voto a Munique, de Steven Spielberg, sobre o atentado nas Olimpíadas de 1972, mas tanto O Segredo de Brokeback Mountain, Capote ou Boa Noite e Boa Sorte tinham potencial para saírem consagrados.

2007 (79º)

E o Oscar foi para... Os Infiltrados

Tinha mais é que ir para Os Infiltrados

Novamente um ano muito nivelado (por cima, felizmente). Não seria decepcionante se o vencedor fosse outro (talvez apenas Babel, que era o "menos bom"): Cartas de Iwo Jima, A Rainha e Pequena Miss Sunshine também eram dignos do troféu. Mas a Academia resolveu - tardiamente - reconhecer o talento de Martin Scorsese e premiar um filme que, apesar de não ser seu melhor trabalho, é infinitamente superior ao que o diretor vinha fazendo ultimamente, como O Aviador e Gangues de Nova York. Violento - tanto verbal quanto visualmente - Os Infiltrados funciona muito graças ao afinadíssimo elenco encabeçado por Leonardo Di Caprio, Matt Damon, Jack Nicholson e Martin Sheen. No fim das contas, foi um prêmio de consolação, mas merecido.

2008 (80º)

E o Oscar foi para... Onde Os Fracos Não Têm Vez

Tinha mais é que ir para Onde Os Fracos Não Têm Vez

Pelo segundo ano consecutivo, a violência é o que move a trama do vencedor do Oscar. Dois dos melhores cineastas da atualidade, os irmãos Joel e Ethan Coen adaptaram o romance "Onde Os Velhos Não Têm Vez" de Cormac McCarthy e obtiveram uma justíssima vitória. Por mais que o grande público torça o nariz para Onde Os Fracos Não Têm Vez (é assim com a maioria dos filmes da dupla), há de se admitir a capacidade dos cineastas em construir obras com "clima"e repletas de personagens complexos e interessantes, imersos em um mundo que só os Coen conseguem criar. Destaque, também, para Javier Bardem, possuído na pele do impiedoso Anton Chigurh.

2009 (81º)

E o Oscar foi para... Quem Quer Ser Um Milionário?


Tinha mais é que ir para Quem Quer Ser Um Milionário?

Há anos a Academia não premiava um filme cujo mote fosse um romance. Ambientado na Índia, Quem Quer Ser Um Milionário? acompanha a jornada do menino Jamal em busca de sua eterna amada, Latika. Durante os anos que os mantiveram separados, ele passa por inúmeras dificuldades ao lado de seu irmão mais velho e, já crescido, participa de uma espécie de Show do Milhão hindi. Danny Boyle, cineasta versátil que é, transforma o visual do longa em um espetáculo à parte - a fotografia saturada e a montagem frenética são sensacionais. Seus demais adversários chegaram à festa já com poucas chances, destacando-se, entre eles, Frost/Nixon e Milk - A Voz da Igualdade.

2010 (82º)

E o Oscar foi para... Guerra Ao Terror

Mas deveria ter ido para... Bastardos Inglórios


Quer coisa mais legal que Hitler sendo esburacado, trucidado, fuzilado, a ponto de virar uma massa disforme? A Academia parece não ter curtido muito a versão surtada de Quentin Tarantino para o confronto entre judeus e nazistas durante a Segunda Guerra. Ao invés disso, preferiu premiar um filme de temática recente - a Guerra do Iraque -, e com tratamento mais realista. Guerra Ao Terror, de Kathryn Bigelow, é uma obra crua, dura e, em alguns momentos, perturbadora. Mas cinema também é escapismo, oras! Mais "controlado", se compararmos seus outros filmes, Tarantino costura uma trama fictícia recheada de personagens - e cenas - impagáveis. O Coronel Hans Landa, interpretado por Christoph Waltz, já é uma figura marcante na cultura pop.


Faltam 5 dias para o Oscar 2011

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