sábado, 12 de fevereiro de 2011

Bravura Indômita

Os filmes dos irmãos Joel e Ethan Coen pertencem a um gênero cinematográfico muito específico: filmes dos irmãos Joel e Ethan Coen. São obras diferenciadas, que, muitas vezes, o grande público ignora por se tratarem de histórias que fogem do lugar-comum, sobre pessoas estranhas em situações ainda mais estranhas, caso de Arizona Nunca Mais, O Grande Lebowski, E aí, Meu Irmão, Cadê Você? e Fargo, só para citar alguns. Logo, não surpreende que Bravura Indômita, um longa menos autoral, tenha feito o sucesso que fez nas bilheterias norte-americanas. Mais convencional em sua narrativa, se comparado a filmografia dos Coen, este faroeste, no entanto, não deve nada ao estilo que consagrou a dupla, e é mais uma obra-prima em suas brilhantes carreiras.

Bravura Indômita chegou aos cinemas pela primeira vez em 1969, dirigido por Henry Hathaway. Baseado no romance homônimo de Charles Portis, o filme estrelado por John Wayne, apesar de divertido e conduzido de maneira correta por Hathaway, não resistiu bem ao tempo e dificilmente é lembrado entre os melhores do gênero. Para não repetir qualquer equívoco do antigo, Joel e Ethan Coen optaram por roteirizar este tendo como base o texto original, não o filme (que eles juram que nem assistiram). O "novo" Bravura Indômita não é, portanto, um remake, mas uma releitura do livro de Portis.

Ainda assim, as comparações são inevitáveis. Conhecidos por arrancarem performances marcantes de seus protagonistas, os Coen novamente têm um elenco impecável a sua disposição. Diferente das performances exageradas e, por vezes, caricatas do filme de 69, aqui os atores conseguem dosar os trejeitos e expressões burlescas (que se fazem necessários em certos momentos) com a sobriedade que, afinal de contas, condiz com grande parte da trama. Jeff Bridges defende com vigor o papel que fora de Wayne. Mesmo que o eterno cowboy tenha conquistado um Oscar por sua atuação, Bridges faz do oficial Reuben "Rooster" Cogburn uma figura mais complexa, e a inclusão de duas sequências ausentes anteriormente tratam de desmistificá-lo, tornando o personagem mais humano e mostrando que sua existência é mais dramática do que inicialmente se pensa, quando é introduzido como um sujeito beberrão e preguiçoso.

Quem faz o filme andar, porém, é a jovem Mattie Ross que, movida por um sentimento de vingança, contrata Cogburn para capturar e matar o assassino de seu pai. Durona, ela decide acompanhar o anti-heroi para garantir que ele cumprirá o acordo. Interpretada pela estreante Hailee Steinfeld com uma maturidade assustadora, ela é apresentada como uma menina que prefere - como sugere um personagem - revólveres a bonecas, além de ser extremamente hábil em negociar valores com pessoas de muito mais idade. Não é exagero destacar que, mesmo com nomes como Jeff Bridges, Matt Damon e Josh Brolin no elenco, é Hailee a encarregada de levar o longa nas costas - e em um filme dos irmãos Coen essa tarefa revela-se sempre um desafio -, o que ela faz com imensa competência e personalidade.


Em sua décima parceria com os cineastas, o veterano Roger Deakins, mais uma vez, esb
anja talento e transforma sua fotografia em um dos maiores trunfos da produção. Os planos concebidos por ele evocam a natureza dura tanto do local quanto das pessoas que o habitam. Ao mesmo tempo, a tonalidade fria das - poucas - cores utilizadas no filme ilustram com perfeição o lado mais sombrio dos protagonistas, presente durante toda a história, enquanto a utilização de contraluzes em algumas cenas revela-se uma belíssima solução visual.

Apesar de economizar no humor negro e na violência, característicos em suas obras, não há como negar qu
e Bravura Indômita é um legítimo "filme dos irmãos Joel e Ethan Coen". A coragem para costurar um final não necessariamente redondo ou feliz está presente no roteiro, tal qual em seus melhores filmes, mas, por se tratar de um western - marcado pelo virtuosismo de seus protagonistas -, é interessante notar que os prolíficos irmãos tenham ignorado o epílogo do longa de Hathaway. Aqui, até o mais bravo dos mocinhos é vulnerável. E a tal bravura indômita do título remete, sim, a um personagem, e não é Cogburn.

Nota: 9

True Grit, 2010. De Joel e Ethan Coen. Com Jeff Bridges, Hailee Steinfeld, Matt Damon, Josh Brolin, Barry Pepper. Western.


Um comentário:

  1. Adoro o Bravura original, mas não há como negar: Hailee dá de dez na protagonista da primeira versão. Um western com tempero moderno. Só os Coen fazem isso. Que venha mais poeira e tiros!

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