terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Atração Perigosa

Ben Affleck é um caso a ser estudado. Aos 26 anos, escreveu - ao lado de seu amigo Matt Damon - o roteiro de Gênio Indomável, e, como se não bastasse, ganhou um Oscar pelo trabalho. Com raras excessões, depois disso sua carreira virou sinônimo de filmes ruins, culminando no pavoroso Contato de Risco, um dos maiores fracassos de público e crítica da história. Malhado com frequência (e quase sempre com razão) por suas limitações como ator, Affleck passou para trás das câmeras em 2007, com o bom Medo da Verdade. Bem recebido, o longa deu crédito ao agora diretor, que novamente acerta em Atração Perigosa e dá um importante passo em seu novo ofício.

Apesar do genérico título em português, existe, no enredo, algo que o justifique. Além de dirigir, Ben Affleck interpreta Doug MacRay, líder de um bando especializado em assaltar - fantasiados - bancos de Boston. Em um desses roubos, ele conhece a gerente vivida por Rebecca Hall. Já sem fantasia, eles nov
amente se conhecem - desta vez socialmente - e rapidamente engatam um romance. Mais do que um filme sobre um único e grandioso assalto, o roteiro de Atração Perigosa foca sua atenção no conturbado relacionamento de MacRay com todos que o cercam, seja a namorada (de que ele esconde, por motivos óbvios, o que faz), os colegas de profissão, o pai presidiário (o sempre excelente Chris Cooper), ou consigo mesmo, uma vez que não vê a hora de poder abandonar seu "ganha pão", mesmo sabendo o quão competente é. Aqui, cada assalto serve de estopim para gerar algum conflito relevante à trama - especialmente após a entrada em cena do oficial Adam Frawley (John Hamm, da série Mad Men), obcecado em capturar a gangue.

Não é difícil notar, na direção de Affleck, influências de cineastas como Michael Mann (especialmente Fogo Contra Fogo), Don Siegel (Implacável Perseguidor) e até mesmo William Friedkin (Operação França), onde o bandido não é tão mau e o mocinho pode agir como mau-caráter a qualquer instante. Sua habilidade para as cenas de ação também evoca os clássicos citados, onde o diretor demonstra mão firme e uma certa preferência por perseguições a moda antiga, com economia de cortes e montagem coerente e compreensível.

É curioso notar que, talvez por ser um ator mediano, Affleck dá um enorme destaque a seus elencos e - ao que tudo indica - é um ótimo diretor de atores. Em Medo da Verdade, ele arrancou atuações brilhantes de
Casey Affleck (irmão caçula e mais talentoso), Morgan Freeman e Amy Ryan, que chegou a ser indicada ao Oscar. Agora, é a vez de Rebecca Hall, Blake Lively e Jeremy Renner destacarem-se. Ele, aliás, rouba as cenas em que aparece como o esquentado melhor amigo do protagonista. Repare, ainda, na forte composição de Pete Postlethwaite - falecido no início do mês - como o florista que encomenda os serviços de MacRay. No fim das contas, até Ben Affleck entrega uma performance digna do belo trabalho que ele mesmo realizou. Parece que o Ben Affleck diretor conhece os limites do Ben Affleck ator. Ele é, de fato, um caso a ser estudado.

Nota: 8

The Town, 2010. De Ben Affleck. Com Ben Affleck, Jeremy Renner, Rebecca Hall, Blake Lively, Pete Postlethwaite, John Hamm, Chris Cooper. Ação.



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