quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Um Lugar Qualquer

Um Lugar Qualquer é uma espécie de irmão gêmeo sem graça de Encontros e Desencontros. Sai o ator decadente interpretado por Bill Murray, entra o ator decadente vivido por Stephen Dorff. Sai a loira (Scarlett Johansson) que busca no personagem de Murray uma figura fraternal, devido ao fato de seu marido lhe dar pouca atenção, entra a loirinha (Elle Fanning) que busca no próprio pai (Dorff) uma figura paternal, devido ao fato de sua mãe lhe dar pouca atenção. Sai o hotel no Japão, entram hotéis nos Estados Unidos e na Itália. E se, à primeira vista, as semelhanças entre os longas da diretora Sofia Coppola são grandes, Um Lugar Qualquer se revela infinitamente mais raso que seu antecessor, passando longe da complexidade emocional daquela bela história de quase-amor.

Com a carreira tão em baixa quanto a de seu personagem, Stephen Dorff dá vida a Johnny Marco, ator de filmes de ação cuja vida resume-se a farrear, dormir e assistir a shows de strippers em seu próprio quarto de hotel. Sua "rotina" é interrompida quando a filha Cleo é enviada pela mãe para passar alguns dias junto a ele. É clara a intenção da cineasta em mostrar o quão vazia é a vida de seu protagonista, e isso fica evidente já na reveladora sequência inicial, onde Johnny anda em círculos com sua Ferrari - no melhor estilo "eu tenho o poder, mas não sei usá-lo". Essa angústia interior passada pelo personagem - que chega ao ponto de adormecer enquanto duas gêmeas fazem acrobacias no pole dance em seu quarto - reflete bem o nível de estagnação em que vive atualmente.

Sofia é, sem a menor dúvida, uma legítima herdeira dos genes do papai Francis (que, pra quem não sabe, dirigiu só O Poderoso Chefão e Apocalypse Now). Mas sua insistência em fazer um cinema excessivamente blasé começa a dar sinais de desgaste. Não que Um Lugar Qualquer seja um longa ruim, mas nota-se que, como roteirista, ela não demonstra o mesmo vigor com que dirige. Seus longos - e belíssimos - planos gerais, sua imensa competência em captar as reais emoções dos personagens por meio de close-ups e outros enquadramentos em que a câmera é mera observadora (deixando que eles revelem-se através dela), contrastam com um roteiro que, por vezes, apresenta-se frágil, talvez por opção da própria Sofia em querer apresentar o universo de Johnny como algo efêmero, inconstante e fútil. Ainda assim, não se deve atribuir todo o tédio da narrativa ao fato de que ele é um homem entediado. Alguns momentos são bocejantes e, sim, a "culpa" é sua, Sofia.

Contando com um bom desempenho de seu elenco - especialmente a jovem Elle Fanning (irmã de Dakota), que ilumina todas as cenas em que aparece - Um Lugar Qualquer é repleto de simbolismos que remetem às frivolidades
indústria cinematográfica (a cena de Michelle Monagham é um exemplo disso). E, como alguém "de dentro", Sofia deve ter falado a verdade em seu filme. O preço da fama não é pra qualquer um.

Nota: 6,5

Somewhere, 2010. De Sofia Coppola. Com Stephen Dorff, Elle Fanning, Michelle Monagham, Chris Pontius. Drama.


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